Dia Do Circo
Neste artigo, o Artista Visual e Psicanalista Henrique Vieira Filho conta a origem antropofágica e modernista do Dia Do Circo, homenageando Piolin e tecendo a trajetória da figura arquetípica do Louco, no Tarô e nas tradições de variadas culturas.
Publicado resumido no Jornal O Serrano, Nº 6295, de 11/03/2022
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.6349219
Ride, Piolin!
Em 27 de março é celebrado o Dia do Circo, uma homenagem ao nascimento de Piolin.
O termo “palhaço” deriva da “palha” que os pioneiros usavam para encher suas roupas, criando formas engraçadas, além de amortecer as quedas acrobáticas.
Piolin, de tão querido, foi “devorado” pelos modernistas que desejavam trazer sua brasilidade para suas próprias artes, no famoso “banquete antropofágico”, organizado por Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade, na Casa Mappin.
Em 1972, numa iniciativa de Pietro e Lina Bo Bardi, organizadores da exposição do cinquentenário da Semana de Arte Moderna, o Circo Piolin foi armado no Belvedere do MASP. Nesse mesmo ano, 27 de março, data do aniversário de Piolin, foi declarado oficialmente como o Dia do Circo.
Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/patrimonio_historico/memoria_do_circo/largo_do_paissandu/index.php?p=7142
Piolin Comido, Almoço Oferecido pelo Clube de Antropofagia em Homenagem a Piolim
Fonte: https://acervo.mis-sp.org.br/fotografia/atropofagia-piolin-comido-almoco-oferecido-pelo-club-de-antropofagia-em-homenagem-pioli-3
Auto-Retrato – Tarsila do Amaral – 1923 – Óleo Sobre Tela – Reprodução fotográfica: Romulo Fialdini |
Retrato de Mário de Andrade, de Tarsila do Amaral – 1922 – Óleo Sobre Tela – Reprodução fotográfica: Romulo Fialdini |
Abelardo Pinto, o palhaço Piolin (o apelido Piolin, que é um tipo de “barbante” em espanhol, surgiu de uma brincadeira sobre suas pernas finas) |
O Artista Henrique Vieira Filho e suas gravuras “Tarsila Antropofagiando Piolin” e “Mário de Andrade Antropofagiando Piolin”
Em contraponto à tradição de alegria do palhaço brasileiro, a indústria cultural norte-americana vem impondo a versão aterrorizante, ora como psicopatas “imortais”, ora induzindo à morte lenta pela ingestão contínua de lanches e batatas-fritas.
Por sua vez, as obras seculares européias apresentam a figura escondendo sua tristeza por meio do riso, tal como Pierrô ao constatar o interesse de sua amada Colombina pelo Arlequim.
Na verdade, todos os povos têm suas versões ancestrais dos bufões, personagens que caminham lado a lado com os heróis em suas jornadas e que surpreendem com atitudes inusitadas, habilidades acrobáticas e soluções criativas, sem as quais, a história não teria êxito.
No Tarô, ele é representado como “O Louco”, literalmente uma “carta fora do baralho”, tanto é que nem número possui. Nos jogos, tamanha é sua habilidade, que pode substituir a qualquer outro: ele é o coringa.
O palhaço das cartas caminha com alegria, despreocupado das posses materiais, confiando sua trajetória aos desígnios do universo. Sem essa coragem ingênua, a jornada não triunfaria.
O Evangelho judáico-cristão afirma que a sabedoria de Deus parece loucura aos homens.
Ou seja, um certo nível de loucura, de “palhaçada”, pode ser bem saudável em nossas vidas, se levarmos em conta os ensinamentos ancestrais.
Por isso, ride, caro leitor! Ride!
Nesta pintura, o artista Henrique Vieira Filho se autorretrata como o palhaço do Tarô, pois só o louco tem coragem de se lançar ao abismo do amor, dando continuidade ao tema da carta “Os Enamorados”.
Henrique Vieira Filho é artista plástico, agente cultural (SNIIC: AG-207516), produtor cultural no Ponto de Cultura “Sociedade Das Artes” (SNIIC: SP-21915), diretor de arte, produtor audiovisual (ANCINE: 49361), escritor, jornalista (MTB 080467/SP), educador físico (CREF 040237-P/SP), terapeuta holístico (CRT 21001), professor de artes visuais e sociologia, pós-graduado em psicanálise e em perícia técnica sobre artes.