20 De Março – Iniciativa da ONU
Felicidade Interna Bruta
Neste artigo, o Artista Visual e Psicanalista, Henrique Vieira Filho trata da origem da data comemorativa do Dia Internacional Da Felicidade e analisa a etimologia e significado da Felicidade na vida, arte e psicoterapia, além de abordar o indicador de FIB – Felicidade Interna Bruta ante o PIB – Produto Interno Bruto.
O artista Henrique Vieira Filho e duas de suas artes com a felicidade do sorriso de Mona Lisa: “Egyptian Gioconda” e “African Gioconda”
Publicado resumido no Jornal O Serrano, Nº 6296, de 18/03/2022 e na íntegra em https://henriquevieirafilho.com.br/2019/03/20/dia-internacional-da-felicidade/
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.6365045
Em contraponto às notícias da pandemia e suas sequelas, escrevo aqui sobre o Dia Internacional da Felicidade.
Por iniciativa da ONU, 20 de março é a data escolhida para lembrar aos governos que o bem-estar do povo deve ser considerado como meta ainda maior do que a produção.
Com esse objetivo, foi criado o indicador de FIB – Felicidade Interna Bruta, a ser priorizado ante o PIB – Produto Interno Bruto.
O país Butão, versão real do Shangri-la e também localizado na região do Himalaia, adotou uma série de medidas focando este caminho bem intencionado.
A proposta do rei butanês era levar à população valores espirituais do budismo, psicológicos e culturais.
O conceito usa nove elementos básicos:
- Bem-estar psicológico: Mede o otimismo que cada cidadão tem em relação a sua vida. É feita uma análise da autoestima, nível de stress e espiritualidade.
- Saúde: Analisa as medidas de saúde implantadas pelo governo, exercícios físicos, nutrição e autoavaliação da saúde.
- Uso do tempo: Inclui questões como o tempo que o cidadão perde no trânsito, divisão das horas entre o trabalho, atividades de lazer e educacionais.
- Vitalidade comunitária: Entra na questão do relacionamento e das interações entre as comunidades. Analisa a segurança dentro da comunidade, assim como a sensação de pertencimento e ações de voluntariado.
- Educação: Sonda itens como participação na educação informal e formal, valores educacionais, educação no que se refere ao meio ambiente e competências.
- Cultura: Faz uma análise de tradições culturais locais, festejos tradicionais, ações culturais, desenvolvimento de capacidades artísticas e discriminação de raça, cor, ou gênero.
- Meio ambiente: Relação entre os cidadãos e os meios naturais como solo, ar e água. Estuda a acessibilidade para áreas verdes, sistemas para coletar o lixo e biodiversidades da comunidade.
- Governança: Estuda a maneira da relação entre a população e a mídia, poder judiciário, sistemas de eleições e segurança.
- Padrão de vida: Análise da renda familiar e individual, seguridade nas finanças, dívidas e qualidade habitacional.
Mas, como tudo que é imposto e de cima para baixo, nem todos ficaram felizes…
Inclusive, alguns países que não tiveram essa ideia primeiro e resolveram “esquecer” que o conceito acima foi lançado nos anos 70 e resolveram lançar como “novidade”, no início deste século, o Relatório Mundial da Felicidade (World Happiness Report) que tornou-se uma medição publicada pela Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU, que se baseia em seis variáveis:
- PIB – relacionado à renda per capita, indicador econômico.
- Expectativa de vida – dados gerados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
- Suporte Social – sensação de suporte de familiares ou amigos em momentos de necessidade e/ou lazer.
- Liberdade – sensação de que cada pessoa possui liberdade de escolhas
- Generosidade – sensação de altruísmo das pessoas.
- Percepção da corrupção – como os cidadãos percebem a corrupção no governo, em entidades e nos negócios.
O “ranking” vem sendo vencido por países nórdicos, com destaque para a Finlândia. Nem mesmo o advento da Covid alterou esta tendência. Já as posições intermediárias foram afetadas por esta variável, como aconteceu com o Brasil, que foi da 32ª posição para o 41º lugar.
Convenhamos, felicidade está mais para uma percepção individual, ainda que, de certo, o coletivo influencie.
É um tema recorrente na Filosofia e na Psicoterapia, cuja corrente humanista até traduziu graficamente as necessidades primordiais a serem satisfeitas para que estar feliz seja possível:
Henrique Vieira Filho atualiza a Pirâmide de Maslow (Hierarquia Das Necessidades) incluindo o conceito de Transpessoalidade adotado pelo próprio Maslow, em seus estudos posteriores.
“…Masllow, que desenvolveu várias teorias a facilitar o entendimento dos Clientes, sendo uma das mais conhecidas, a “Pirâmide de Masllow”, onde ele classifica as necessidades do ser humano para ser feliz.
Ironicamente, ele que foi o expoente da Corrente Humanista, considerou-a insuficiente, acrescentando na “pirâmide” a satisfação espiritual, dando origem à Quarta Força, a PSICOTERAPIA TRANSPESSOAL”Vieira Filho, Henrique. Psicoterapia Holística: Um Caminho Para Si Mesmo. 14 ed., vol. 1, São Paulo, Sociedade Das Artes, 2014.
A etimologia (estudo da origem das palavras…) nos dá ótimas pistas quanto à percepção de cada cultura.
Em latim, “felicidade” deriva do conceito de gerar frutos, produzir… Já a língua inglesa associa à boa sorte, em ser favorecido pelo divino (“happiness”).
Para a primeira, é algo gerado de si e externado ao mundo, enquanto que para a outra, um favorecimento exterior é a razão de ser feliz.
A sociedade atual chega a cobrar “ser feliz” como uma obrigação e os meios de comunicação reforçam a ilusão de que este estado ideal é vivenciado pela maioria das pessoas.
Redes Sociais e Ilusão de Felicidade – Ilustração de Henrique Vieira Filho, extraída de seu livro “Fotopsicoterapia- A Fotografia Como Instrumento Terapêutico”
Vieira Filho, Henrique. 2020. Fotopsicoterapia: A Fotografia Como Instrumento Terapêutico. 1a ed. Vol. 1. São Paulo, SP: Sociedade Das Artes. https://doi.org/10.5281/zenodo.5795872.
“Os meios de comunicação em massa imprimem uma “obrigação” de felicidade neste período do ano.
Vendem imagens de pessoas alegres, bonitas, festejando em famílias harmoniosas, todos de bem com a vida.
Quem não se enquadra neste estado de espírito se vê pressionado para “adequar-se”, cobrança esta que pode amplificar ainda mais a angústia que sente”.Vieira Filho, Henrique (2021). Obrigação De Ser Feliz vs Angústia de Fim De Ano. Revista TH, 1(34), 14–18. https://doi.org/10.5281/zenodo.5129283.
Disponível em https://revistaterapiaholistica.com.br/2019/12/04/obrigacao-de-ser-feliz-vs-angustia-de-fim-de-ano/
Pessoalmente, me identifico com a definição chinesa do I Ching, que é uma língua escrita em código binário (a mesma dos computadores…), de origem desconhecida, com milhares de anos.
O Hexagrama (símbolo gráfico desta linguagem) correspondente à “felicidade” chama-se “Tui”, que representa dois lagos interligados, ou seja, sua sede está suprida e com baixo risco de ser afetado pela seca. Soma-se a imagem serena da água calma, refletindo o observador (desde que não seja o Narciso, é claro…) tal qual espelho de corpo e mente.
Nesta versão milenar, o conceito está mais como uma situação individual, momentânea e serena, originada tanto do exterior, quanto interior, reflexos um do outro.
Por este prisma, a Felicidade pode ser como o sorriso de Mona Lisa: sutil, enigmático e, ainda assim, a almejada obra prima de toda uma vida…
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Henrique Vieira Filho é artista plástico, agente cultural (SNIIC: AG-207516), produtor cultural no Ponto de Cultura “Sociedade Das Artes” (SNIIC: SP-21915), diretor de arte, produtor audiovisual (ANCINE: 49361), escritor, jornalista (MTB 080467/SP), educador físico (CREF 040237-P/SP), terapeuta holístico (CRT 21001), professor de artes visuais e sociologia, pós-graduado em psicanálise e em perícia técnica sobre artes.