Dia Do Indígena
Neste artigo, o artista e psicanalista Henrique Vieira Filho celebra a presença da cultura indígena em nosso dia-a-dia, bem como na literatura e mitologia, destacando duas heroínas nativas que nomeiam fontes da região do Circuito das Águas Paulista: Lindóia e Obirici.
Publicado resumido no Jornal O Serrano, Nº 6300, de 15/04/2022
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.6470571
Fotografia do mosaico da Fonte da Índia, em Monte Alegre do Sul, com Henrique Vieira Filho e Fabiana Vieira
Após um bom banho, deitei na minha rede e, entre um gole e outro de guaraná e punhados de pipoca, fiquei pensando em como homenagear a cultura indígena.
Além da evidente presença em nosso dia-a-dia, nos hábitos alimentares, na higiene e até terapêuticos, quero aqui focar na influência sobre as artes.
Eu, por exemplo, estudei e adotei grafismos indígenas nas pinturas corporais que aplico e fiz releituras de clássicos, como a “Mona Lisa” e “O Nascimento de Vênus”, diversificando as personagens femininas para versões tupis.
Na literatura brasileira, então, constatamos um verdadeiro culto às nossas heroínas nativas: Aurélia, Iracema, Cecília, Capitu, Moema e muitas outras que se somam ao panteão dramático indigenista, das quais destacarei duas bastante conhecidas aqui no Circuito das Águas.
Muitos saciam a sede com produtos que levam o nome da personagem épica Lindóia (de “O Uraguai”, obra de Basílio da Gama), que preferiu a morte à negação do amor.
Outros tantos de nós, bebemos das lágrimas da Índia Obirici.
Sua lenda nos conta que disputou com sua irmã Paraí o amor do cacique Abaetê, que foi orientado por Tupã e Sumá a propor um torneio de arco e flecha para resolver a questão.
Obirici perdeu, caindo na mais profunda tristeza. As Parajás, deusas da piedade e da justiça, tentaram consolar. A divina Paré, deusa da fé, não conseguiu lhe dar esperança. Tolori, deus da coragem, também tentou lhe animar.
Dia e noite, as lágrimas da formosa indígena caíram, formando o córrego Ibicuiretã, sobre o qual estendia seus braços para o céu, até que Tupã atendeu suas preces, pondo um fim ao seu sofrimento.
O rio de choro fica no Sul do Brasil, mas, perto de nós, temos a Fonte da Índia Obirici, que, mesmo triste, ainda nos concede atender um desejo, desde que consigamos encontrar os sete pássaros escondidos em seu mosaico.
Bom, eu os encontrei e provo com a foto que ilustra este artigo! E o que desejei é que todos nós reflitamos sobre o que já nos alertava a cantora Baby Do Brasil: “todo dia, era dia de índio”
Ilustrações:
Fotografia do mosaico da Fonte da Índia, em Monte Alegre do Sul e a localização dos sete pássaros escondidos
Title: Kayapó Cosmology
Artist: Henrique Vieira Filho
Os primeiros Mebêngokrês (Kayapós) desceram dos céus para a terra e aqui habitaram. Nesta tela, a filha da chuva, Nhokpôktí, trazendo frutas e legumes das aldeias celestes para ensinar as tribos a plantar.
Title: Caipora – Goddess Of The Forests
Artist: Henrique Vieira Filho
Seu nome tem origem na língua tupi: “kaa-póra” (habitante das matas), um ente fantástico que protege a natureza, em especial, os animais, à semelhança das deusas céltica Arduinna e nórdica Freya (todas igualmente acompanhadas por um porco selvagem) e das grego-romanas Artemis/Diana.
Title: Yara – Mother Of The Waters
Artist: Henrique Vieira Filho
Yara, Uiara (do tupi y-îara, “senhora das águas”). Guerreira das tradições indígenas (Tupi-Guarani), renasce como espírito nas águas doces, que se tornam seu domínio. A miscigenação com a cultura européia lhe antropomorfiza como Sereia.
Title: Aphrodite Indigenous
Artist: Henrique Vieira Filho
Uma Vênus Indígena, com grafismos das tribos marajoaras, sendo a representação da própria Mãe Natureza.
Title: Brazilian Dragon
Artist: Henrique Vieira Filho
Da Mitologia Tupi-Guarani, Boiarara é a poderosa cobra alada, do elemento fogo, equivalente brasileiro aos dragões e a Quetzalcóatl, dos Astecas.
Henrique Vieira Filho é artista plástico, agente cultural (SNIIC: AG-207516), produtor cultural no Ponto de Cultura “Sociedade Das Artes” (SNIIC: SP-21915), diretor de arte, produtor audiovisual (ANCINE: 49361), escritor, jornalista (MTB 080467/SP), educador físico (CREF 040237-P/SP), terapeuta holístico (CRT 21001), professor de artes visuais e sociologia, pós-graduado em psicanálise e em perícia técnica sobre artes.
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