Capa do livro: Da Vinci’s Kitchen: A Secret History of Italian Cuisine Hardcover, de Dave Dewitt (2006)
Publicado resumido no Jornal O Serrano, Nº 6302, de 29/04/2022 e na íntegra em https://henriquevieirafilho.com.br/2022/07/18/da-vinci-e-sua-arte-culinaria/
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.6855185
A vida de artista nunca foi fácil. Até mesmo o imortal Leonardo Da Vinci teve que recorrer a outras fontes de renda.
Graças à sua experiência como cozinheiro da taverna “Três Caracóis”, no ano de 1478, montou com Sandro Botticelli (outro pintor genial), o restaurante “As Três Rãs De Sandro e Leonardo”.
Talvez por ter nome de dupla caipira e cardápio que só faria sucesso no século 21 (eram vegetarianos) ou porque ninguém entendia o que estava escrito no menu (esta a mania do Da Vinci de escrever espelhado…), acabou falindo.
Mesmo assim, manteve firme sua paixão pelas artes culinárias e, por mais de 30 anos, chefiou as celebrações e banquetes nas cortes de Milão.
Nem todos sabem, mas, seus famosos manuscritos também contém inúmeras receitas e desenhos de utensílios para cozinha: um “tataravô” do liquidificador, “buffets” para alimentos gelados e quentes, panela de pressão, churrasqueira a lenha (Leonardo, seu vegetariano de araque!), moedor de pimenta, fatiador de ovo a vento, a prensa para quebrar as nozes e até algumas curiosas regras de etiqueta à mesa:
Não coloque comida mastigada no prato do seu vizinho; saia da mesa para urinar ou vomitar; não esconda comida nas botas; não risque a mesa com a faca; não cuspa perto de você.
Para evitar as manchas de sangue à mesa (o único talher era a faca), Da Vinci também criou o “mini garfo de três dentes” de uso individual, pois antes havia somente um enorme na cozinha.
Sua maior frustração no universo gastronômico foi que não vingou uma de suas invenções, que, hoje em dia, é muito popular.
Todos usavam diretamente as mãos para levar a comida à boca. Os mais ricos limpavam os dedos no pelo de coelhos, mantidos vivos e amarrados próximos. A maioria esfregava na toalha.
Para evitar isso, Leonardo inventou as “mini toalhas individuais” (a palavra “guardanapo” significa: “salva toalha”), mas, as pessoas usaram ora para sentar em cima, ora para guardar comida e, às vezes, para assoar o nariz.
Somente no século seguinte que, graças a Catarina de Médici, a nobreza se rendeu ao uso do garfo e guardanapo.
Se eu fosse o “marketeiro” do Da Vinci, teria sugerido esta “pequena” alteração em sua obra prima, que, certamente teria acelerado a popularização de seu invento:
Ilustração: Gioconda À Mesa – Arte: Henrique Vieira Filho
Curiosidades:
Da Vinci anotou em seu caderno de notas de cozinha (Codex Romanoff), sob o título “Uma alternativa às toalhas de mesa sujas”:
“Inspecionando as toalhas de mesa do Senhor Ludovico, meu Amo, depois de seus comensais terem abandonado a sala do repasto, deparou-se-me uma cena de caos e depravação tais (semelhante ao rescaldo de uma batalha) que considero prioridade, antes de qualquer cavalo ou retábulo, encontrar alternativa.
Já disponho de uma. Creio que deveria ser dado a cada um dos convidados um pedaço de pano individual que, depois de sujo pelas mãos e pelas facas, poderia ser dobrado, de forma que não conspurcasse a aparência da mesa com suas imundices.
“Mas que nome hei de dar a estes panos? E como apresentá-los?”.
Em suas anotações, Da Vinci desenhou sua invenção em forma de flor, pássaro e palácio e adotou o nome de “mantile” (mantilhas).
Posteriormente, na França de Catarina de Médici e Henrique II, o nome passou a ser “garde-nappe” (guarda toalha), por proteger de sujar a toalha de mesa. Atualmente, utilizam o termo “serviette”.
A língua portuguesa, herdou a grafia francesa inicial: guardanapo.
Pietro Alemanni, embaixador de Florença em Milão, menciona essa invenção em um de seus relatórios (julho de 1491):
“Ontem à noite Mestre Leonardo apresentou à mesa solução para o problema, consistindo em pano individual colocado diante de cada conviva, o qual deveria ser ensujentado no lugar da toalha de mesa”.
Para sua grande perturbação, ninguém achou modo de o utilizar ou soube o que fazer com ele. Alguns foram ao ponto de se sentar em cima. Outros assoaram o nariz nele. Outros, ainda, serviram-se dele para o atirarem em tom de brincadeira a outros comensais. Mas houve também quem o utilizasse para envolver os víveres e ocultá-los na bolsa ou no bolso.
Mestre Leonardo confiou-me a sua angústia de que o invento nunca chegasse a ter aceitação”.
O Restaurante De Da Vinci E Botticelli
No Projeto Re Arte
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Fotos – Vernissage – para divulgação
Se alguém ainda tinha dúvida que Culinária é ARTE, lhe apresento, diretamente do ano de 1478, o Restaurante “As Três Rãs De Sandro (Botticelli) E Leonardo (Da Vinci)”.
O Artista Plástico e Psicanalista Henrique Vieira Filho e a chef vegana Damodara Lila (sim, Da Vinci era vegetariano…) apresentam esta e muitas outras deliciosas histórias, ilustradas com belas telas e alta gastronomia, durante a Exposição Coletiva do Projeto Re-Arte.
O desafio consistiu em interpretar com Arte Culinária as telas de Henrique Vieira Filho, que por sua vez, interpretou o veganismo da chef em uma tela que a retrata.
Título da obra: “Go Vegan” – técnica mista – 80 x 120 cm.
A Chef Damodara Lila retratada pelo Artista Plástico Henrique Vieira Filho, em releitura do estilo de Giuseppe Arcimboldo (1526) – os cabelos são cachos de uvas, os dentes são de milho, lábios de morango, nariz de folhas, colar feito com ervilhas, musculatura com talos de erva-doce e dedos de cenouras.
E o fundo da tela reproduz página escrita por Da Vinci com algumas de suas receitas culinárias e utensílios domésticos por ele idealizados.
Tela: Katrina Gioconda (releitura da Mona Lisa)
Artista: Henrique Vieira Filho
A mitologia latina da “Muerte” agregada ao fascínio do calendário Maia adornam a bela figura feminina, em contraste à modernidade da cadeira em que se apoia.
A Chef Damodara Lila, por sua vez, dedicou PASTÉIS como releituras das telas de Henrique Vieira Filho que homenageiam a Cidade de São Paulo.
Esta iguaria, tipicamente paulistana, originou-se no início do século 20, como uma “releitura” dos rolinhos-primavera chineses, sendo adotada pelos imigrantes japoneses que aderiram à receita, após a 2a Grande Guerra.
Tal qual acontece com a consagrada pizza, a clássica presença dos pastéis é indissociável com a da grande metrópole.
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