Neste artigo para o Jornal O SERRANO, Henrique Vieira Filho aborda a Justiça na mitologia grego-romana, egípcia e indígena, bem como nas tradições cristãs, contando histórias sobre Ares, Atena, Osiris, Medusa, Parajás, Maria Compadecida e Cristo Redentor, tudo retratado também em suas pinturas na Exposição “Arte Para Todos”, em homenagem ao Dia do Advogado – 11/086, 15hs, no Fórum de Serra Negra/SP.
Henrique Vieira Filho
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.8221208
Quem gosta de latim, mais até do que os padres? Hoje, 11/08, é justamente a data deles: Dia Dos Advogados!
Defender e atacar é rotina nesta profissão e não à toa, a espada é um de seus símbolos e, na mitologia grego-romana, o primeiro advogado foi justamente o deus da guerra, Ares/Marte!
Tendo Zeus/Júpiter como juiz, o deus dos mares como promotor e as demais divindades olímpicas como jurados, ele apresentou uma brilhante autodefesa perante a acusação de ter assassinado o filho de Poseidon, provando que agiu sob “legítima defesa da honra” de sua filha, que havia sido violada. Inspirados por esta lenda é que se formataram os primeiros tribunais da Grécia antiga, em moldes regimentais adotados até hoje!
Só não sei se, realmente, estas divindades são tão bons exemplos a serem seguidos. Para afrontar Atena, Poseidon violou sua sacerdotisa virginal mais devota e a deusa da “sabedoria e justiça”, puniu a vítima, transformando a Medusa em um monstro! E o pior: casos assim, ainda acontecem na vida real…
Já nos mitos egípcios antigos, quem falece tem que ser bom conhecedor do Livro dos Mortos, para saber como se comportar e apresentar sua defesa no julgamento final, cujo veredito se dá por outro símbolo atual da advocacia: a balança, na qual o deus Osíris pesa o coração e este deve ser mais leve do que uma pena (outro símbolo da advocacia), caso contrário, será devorado pelo deus crocodilo.
Para nossos povos originários, a justiça é inseparável da honra e da verdade, daí serem três irmãs tupi-guaranis, as Parajás, que julgam a humanidade.
Nas tradições cristãs é onde temos os melhores advogados de defesa! O “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, é a peça que melhor retrata o imaginário popular de como Maria compadece de nossas falhas e depõe a favor. E ainda podemos sempre contar com o Cristo, pois como redentor de nossos pecados, nos possibilita penas alternativas, ao invés de prisão pós-perpétua e eterna na infernal cadeia.
Caro leitor, considere-se intimado a comparecer às 15hs, dia 11/08, no Salão do Fórum de Serra Negra/SP e fazer o reconhecimento de todos os citados neste artigo, retratados em minhas pinturas para a Exposição “Artem Erga Omnes” (Arte Para Todos), em homenagem ao Dia Dos Advogados (entrada franca).
Maiores informações:
(11) 98294-6468 – [email protected]
A seguir, imagens e detalhes de algumas das obras em exibição:
Tela: Parajá – The Brazilian Indigenous Goddess of Justice
Artista: Henrique Vieira Filho
As Parajás são três divindades indígenas brasileiras femininas: da honra, do bem e da justiça, sendo esta última a quem esta obra homenageia.
Em paralelismo com as versões gregas da deusa, o tacape faz as vezes tanto do martelo do juiz, quanto da espada justiceira.
Os pratos de coco balançam suspensos em cipós, pesando os argumentos prós e contras e os olhos permanecem abertos, para que a justiça pondere atenuantes e agravantes, ao invés de aplicar leis cegamente.
As páginas impressas com legislação estão aos seus pés, para nos lembrar que a Justiça Divina está acima da humana.
Tela: The Compassionate
Artista: Henrique Vieira Filho
Óleo Sobre Tela – 60 x 90 cm – 2023
Inspirado pela obra “O Auto Da Compadecida”, de Ariano Suassuna, e pelo nascimento de seu neto, o artista Henrique Vieira Filho cria uma versão naif de Maria e Jesus.
Tela: Christ – The Redeemer
Artista: Henrique Vieira Filho
Acrílico sobre tela – 08 gravuras originais – 60 x 90 cm
Em uma releitura que homenageia o estilo naif de Cid Serra Negra, que foi aplicado à figura icônica da estátua do Cristo Redentor da cidade de Serra Negra, rodeado de anjos, arcanjos e querubins, cuja aparência tradicionalmente européia foi substituída por afrodescendentes, indígenas e até o Saci-Pererê, representando a miscigenação de nossos povos e culturas.
Tela: The Judgment of Ades
Artista: Henrique Vieira Filho
Acrílico sobre tela – 08 gravuras originais – 60 x 90 cm
Em uma releitura que homenageia o afresco “Sala dei Giganti”, de Giulio Romano e esculturas de Antonio Kanova, esta obra retrata o deus Ades (Marte) como sendo o primeiro advogado, defendendo a si mesmo pelo assassinato de Alirótio, filho de Poseidon, argumentando com a atenuante de que este violou sua filha, Alcipe. Tendo os demais olimpíanos como jurados, Zeus como juiz, esta história inspirou a formatação dos primeiros tribunais da Grécia antiga.
Tela: The Court of Osiris: Weighing Your Heart
Artista: Henrique Vieira Filho
Acrílico sobre tela – 08 gravuras originais – 60 x 90 cm
O Livro Dos Mortos, do Egito, determina as regras do julgamento das almas, em que, perante 42 juízes, o deus Osíris pesa o coração do falecido, que precisa ser tão leve quanto uma pluma para merecer o acesso ao submundo.
Tela: Medusa
Artista: Henrique Vieira Filho
Acrílico sobre tela – 08 gravuras originais – 120 x 80 cm
Na Psicanálise, a Medusa simboliza os aspectos negados da personalidade, o que paralisa e torna pedra a quem não aceita a própria Sombra.
Socialmente, o mito reflete o ato de culpar a vítima, pois era uma sacerdotisa virginal da deusa Atena que foi violentada por Poseidon. Considerada a divindade da inteligência, das artes e da justiça, ainda assim, a deusa puniu Medusa, transformando-a em um monstro.