Via Sacra – autoria de Cid Serra Negra – Igreja de São Benedito
Fotografia e edição: Henrique Vieira Filho
Neste artigo para o Jornal O SERRANO, Henrique Vieira Filho explica o significado original de “paixão”, além de nos contar o simbolismo da cruz nas diversas culturas e a importância de Cristo como símbolo, independente dos aspectos religiosos e históricos.
Publicado resumido no Jornal O SERRANO, Nº 6349, de 07/04/2023
Por influência da literatura francesa do século 13, que popularizou o termo “passion d’amour” (“sofrimento amoroso”), até hoje, o termo “paixão” é interpretado como sendo um amor exacerbado, visto até como algo belo. Contudo, em sua origem latina significa “padecimento atroz”, sendo “parente” de palavras como “passivo”, “paciente”, ainda mais se associarmos com o grego “pathos” (doença).
No sentido de “sofrimento passivo frente à ação prejudicial” é que a palavra se aplica à “Paixão de Cristo”, em sua jornada até a crucificação (“via crucis”) em Gólgota (“montanha arredondada”, em hebraico), colina esta que parecia uma “cabeça careca”, que, no latim, seria “calvo”, derivando daí o chamar todo martírio como sendo um “calvário”.
Independente dos aspectos histórico e religioso, é inegável o caráter universal da narrativa, repleta de simbolismos compartilhados por inúmeras outras culturas.
Um “marketeiro” de nosso tempo poderia estranhar a adoção da cruz, instrumento romano para tortura, como marca registrada de uma ideologia de paz. Na verdade, seu formato simboliza, para a maioria dos povos antigos, a comunicação entre o tempo e o espaço, as estações do ano, os quatro elementos. Apontando para os quatro pontos cardeais, a cruz é a base de todos os símbolos de orientação, nos diversos níveis de existência do homem, sendo o cruzamento das linhas horizontal e vertical, o centro de tudo.
O próprio Cristo é a síntese dos símbolos primordiais do universo: o céu e a terra, devido às suas duas naturezas: divina e humana; o ar e o fogo, por sua morte e ressurreição; a verticalidade, a “escada da salvação”, por sua ascensão aos céus.
“O símbolo de Cristo é da maior importância para a psicanálise, porquanto constitui, ao lado da figura de Buda, o mito ainda vivo de nossa civilização. É o herói de nossa cultura, o qual, sem detrimento de sua existência histórica, encarna o mito do homem primordial. Seu reino é a pérola preciosa, o tesouro escondido no campo, o pequeno grão de mostarda que se transforma na grande árvore”.
Carl Gustav Jung
Henrique Vieira Filho é artista plástico, agente cultural (SNIIC: AG-207516), produtor cultural no Ponto de Cultura “Sociedade Das Artes” (SNIIC: SP-21915), diretor de arte, produtor audiovisual (ANCINE: 49361), escritor, jornalista (MTB 080467/SP), educador físico (CREF 040237-P/SP), terapeuta holístico (CRT 21001), professor de artes visuais e sociologia, pós-graduado em psicanálise e em perícia técnica sobre artes.