Artigo publicado originalmente no Jornal O Serrano, em 18 de novembro de 2021 – 6281 – CXIII
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.5761095
Faz alguns anos participei com meus trabalhos fotográficos, do livro “Les Brésiliens vus par les Brésiliens” (Os Brasileiros vistos pelos Brasileiros), lançado em Paris.
O tema que escolhi é o título deste artigo,pois, neste meu projeto, o biotipo étnico de cada indivíduo, ainda que possa predominar em uma direção, jamais nega a miscigenação de nosso povo e a orientação de vida de cada um, que transcende a própria tradição ancestral.
No citado livro de fotografias, retribuí à França um favor que ela me fez na adolescência: o contato com a cultura afro-brasileira!
Quando adolescente, me identifiquei com uma forma de luta francesa, chamada Savate, técnica que foi inicialmente praticada por marinheiros e chegou a ser a arte marcial militar oficial daquele país, no século XIX. Autodidata e sem ter onde aprofundar na técnica, fui acolhido em outra linha marcial com muitos movimentos semelhantes e que, na verdade, é de origem anterior e bem brasileira: a Capoeira.
Entre os anos 80 e 90. o Brasil estava, literalmente, exportando Capoeira para o mundo todo, em especial, aos EUA. Desde seriados de televisão, como “Kung Fu”, até filmes inteiros sobre o tema (por exemplo: “Esporte Sangrento”), pudemos assistir a havaianos, mexicanos, afro-americanos e até “alienígenas” (série Stargate – SG1) encarnando capoeiristas!
Enquanto alguns podem interpretar que tiveram sua cultura usurpada, outros levarão em consideração fatores positivos, como a divulgação a um público amplo e a abertura de postos de trabalho para capoeiristas que coreografaram e ensinaram a arte aos atores e dublês.
É delicada a distinção entre apropriação cultural e a admiração e reverência sinceras.
Como artista visual e psicoterapeuta apaixonado pelas mais variadas tradições seculares e histórias mitológicas, acredito que toda Cultura deve ser conhecida e compartilhada.
No Brasil, é comum caucasianos reverenciando o Candomblé, afrodescendentes praticantes de tai-chi-chuan, orientais atuando com xamanismo…
Várias de minhas pinturas e fotografias representam a pluralidade cultural de que somos compostos. Uma das telas que estará na Exposição Diversidade, é a African Gioconda, onde temos a beleza da etnia afro estampada tanto em uma moderna Mona Lisa, quanto nos grafismos, inspirados nos tecidos artesanais africanos.
Assista no Youtube: https://youtu.be/gwqZei58CVs
Making Of – Arte Em Tempo Real – Performance do Artista Henrique Vieira Filho com pintura corporal e projeções de grafismos étnicos. Ensaios para novas pinturas em tela da Coleção Giocondas.
A miscigenação é uma das marcas de nosso país, inclusive, nas Artes: nossas músicas, danças, culinária, literatura, língua
Um ótimo símbolo de integração cultural é o nosso brasileiríssimo Saci: de nossos índios, ele herdou o poder de comandar o vento e a magia, enquanto os europeus lhe presentearam com a baixa estatura, as travessuras e o gorro vermelho dos trasgos (duendes) e, por fim, nossos afrodescendentes acrescentaram a esperteza, a cor da pele e a perda de uma das pernas, de tanto jogar capoeira.
Em tupi-guarani, “perereca” é designação para tudo que se locomove aos saltos.
Já o termo “saci” é uma onomatopéia, ou seja, uma palavra idêntica ao som a se descrever, no caso, o canto (que também é seu nome…) de um certo pássaro muito arisco, difícil de ser visto, fácil de ser ouvido, enquanto exclama, continuadamente: _ “Sa.. ci… sa…ci… sa…ci…”.
Neste dia 20/11/2021 (sábado), às 10hs, no Mercado Cultural (Serra negra/SP), teremos algumas destas histórias, pinturas e fotografias, além de uma apresentação de capoeira, tudo com entrada franca. Você, leitor, é nosso convidado!
Homenagem ao Dia Da Consciência Negra, com a Exposição “Diversidade”: Abertura às 10hs, dia 20 de novembro de 2021, no Mercado Cultural: Praça XV de Novembro – Estância Suíça, Serra Negra – SP – Entrada franca
A exposição permanece aberta do dia 20 ao 25 de novembro
Apoio: Prefeitura Municipal de Serra Negra
Henrique Vieira Filho é artista plástico, agente cultural (SNIIC: AG-207516), produtor cultural no Ponto de Cultura “Sociedade Das Artes” (SNIIC: SP-21915), diretor de arte, produtor audiovisual (ANCINE: 49361), escritor, jornalista (MTB 080467/SP), educador físico (CREF 040237-P/SP), terapeuta holístico (CRT 21001), professor de artes visuais e sociologia, pós-graduado em psicanálise e em perícia técnica sobre artes.