Existe uma data no calendário que, para mim, vale mais do que qualquer feriado bancário: 17 de Outubro, Dia do Patrimônio Imaterial.
É o dia que celebra a alma de um povo, aquilo que a gente não pode tocar, mas que nos toca fundo: os saberes, as tradições, o folclore, a ginga. E aqui na Residência Artística, a gente não só celebra essa data, como a gente a vivencia através de ações concretas que salvaguardam nossa memória.
Minha jornada atual com projetos como o “Do Rural Ao Urbano – A Diversidade Das Artes De Serra Negra”, o “Serra Negra: Um Passeio Pelas Cores Do Mundo” e o “Serra Negra no Cinema: A Iara e o Saci Circulam Pelos Campos” é a prova de que o patrimônio imaterial é o motor que nos move. A gente não está aqui só para fazer arte; estamos para não deixar a memória morrer.
No projeto “Do Rural Ao Urbano”, teve Pesquisa, Documentação e Memória sobre a obra de Cid Serra Negra na Igreja de São Benedito. Produzimos uma pesquisa acadêmica que não só valorizou o material – os murais – mas o imaterial: a história, a ousadia de um pintor naïf que foi lá e colocou o Saci dentro da igreja!
O Saci, o Folclore, entrando no espaço sagrado. Isso é a prova de que a cultura popular é resiliente e se impõe. E o documentário sobre Cid imortaliza a trajetória desse artista que, sendo homossexual na época da ditadura e pintando figuras negras, indígenas e asiáticas ao invés do padrão europeu, já era um manifesto de inclusão antes da palavra virar hashtag.
E o folclore segue voando. O projeto “Serra Negra no Cinema” levou a lenda da nossa sereia brasileira, a Iara, para a linha de frente da preservação das nascentes aqui da região. Mas ele fez algo a mais, algo fundamental para o Patrimônio Imaterial: garantiu que ninguém ficasse de fora. O documentário “Iara – Guardiã De Nossas Águas” foi disponibilizado com Libras e Audiodescrição, democratizando o acesso ao folclore. A inclusão, neste caso, é uma forma de garantir que o saber imaterial seja, de fato, de todos. A arte não pode ter barreiras, e a memória coletiva, muito menos.
Já o “Serra Negra: Um Passeio Pelas Cores Do Mundo” mostra que o patrimônio imaterial da cidade também é a sua capacidade de inspirar arte global. Minhas obras de artes visuais, inspiradas na essência serrana, já foram expostas de New York a Tóquio. Esse projeto prova que a identidade local pode cruzar oceanos, confirmando que o nosso saber-fazer e as nossas narrativas são universais.O mais bonito é que todos os projetos buscam o pertencimento. Seja documentando o passado e a diversidade de Cid Serra Negra, seja garantindo a acessibilidade inclusiva do folclore da Iara, ou mostrando que a arte feita aqui ressoa no mundo, a gente celebra a certeza de que, ao documentar o passado e inspirar o presente, o futuro do nosso patrimônio imaterial está garantido.