Não somente por meio da fala, este tipo de “equívoco” igualmente se manifesta na memória, em uma atuação física, por erros de leitura, de audição, distração de palavras…
Enfim, situações aparentemente acidentais, comumente atribuídas pelos leigos ao cansaço, à distração…
Freud deu a esse tipo contexto o nome de “fehlleistungen”, que se traduz como “atos falhos” e que é igualmente conhecido como “lapso freudiano” e parapraxia.
Por este meio, o desejo do inconsciente é realizado. Nesta tese, nenhum gesto, pensamento ou palavra acontece acidentalmente.
Exemplos variados:
Caso real:
A Ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, numa ocasião pública, saudou a Presidente Dilma, da seguinte forma: “Presidenta Lula!”…
Seria mero acaso, ou expressou o que realmente acredita, mas que conscientemente, jamais admitiria, nem para si ?…
Ficção:
“O senhor é muito bem-vindo a esta casa, nossas pernas estarão sempre abertas para lhe receber”…
Piada de Psicanalista:
Freud, explicando: _ Ato falho é, por exemplo, quando você quer dizer uma coisa, mas fala “sua mãe”… Ops, quero dizer: “fala outra coisa”…
Caso real:
Um futuro casal, ainda em fase de paquera, rotineiramente, vinham juntos de carona, mas não ultrapassavam os limites da amizade.
Certa ocasião, devido a forte chuva, a mulher, ao sugerir ao homem para subir com o carro na calçada, exclamou:
_ Pode subir na calcinha…
Exemplo de ato falho, por meio de atitude inconsciente:
Tendo um compromisso (a contragosto…) agendado, erra a configuração de seu despertador, de tal forma que não tenha mais tempo de comparecer…
“Lapso freudiano” por via escrita (caso real e relacionado à nossa Profissão):
Já faz quase 20 anos, um senhor que se apresentava como médico e professor, formado na Itália, alegava que o curso que ministraria aqui no Brasil, automaticamente teria reconhecimento por uma universidade da Itália.
Tanto em seus “diplomas”, quanto nas diversas propagandas que bancou nas mais variadas revistas e jornais, a grafia do nome da suposta instituição de ensino era… Universidade Hipócritas !
O autor do estelionato, aparentemente, se autodenunciava por meio do erro grafico, creio que por peso na consciência e suas vítimas, tão desejosas que tudo fosse verdade, igualmente cometiam “ato falho”, pois liam “Hipócrates”, onde estava impresso “Hipócritas”…
Para o Pai da Psicanálise, o ato falho era como um sintoma, sendo que o desejo reprimido dribrou os sistemas de defesa, encontrando como expressar-se, passando por cima do intuito consciente do indivíduo.
Para Freud, os atos falhos, tanto quanto os sonhos, são determinados por pensamentos inconscientes recalcados, aos quais negou-se outras formas de expressão.
Todos os tipos de casos de ato falho têm em comum, o fato de não serem frutos de mero acaso, pois estão a serviço de propósitos velados.
Se somarmos às teorias junguianas, ainda poderíamos onsiderar a Sincronicidade, ou seja, a “coincidência significativa” entre o “lapso” ocorrido e o que realmente a pessoa sente, pensa ou deseja, mas não se deu conta.
Na abordagem corporal de Reich e Lowen, de certa forma, podemos interpretar como “atos falhos”, os gestos. posturas, expressões faciais, tons de voz, olhares, que expressam intenções difentes daquelas que o indivíduo conscientemente pretendia manifestar.
A intenção original passa por distorções, deslocamentos, sendo expressa de forma modificada, mas, que ainda assim, possibilita estabelecer uma ligação, por via associativa, com o conteúdo reprimido, até então, inconsciente.
Tal qual a interpretação dos sonhos e das associações livres, os “lapsos freudianos” são meios para auxiliar nossos Clientes em sua jornada de autoconhecimento.
Cabe ao Terapeuta Holístico ser o facilitador da interpretação dos atos falhos manifestos em terapia, ou trazidos a esta.
Claro que, como toda “análise intrusiva”, ainda que mediante o consentimento (ao menos, consciente…) do Cliente, pode desencadear uma forte reação contrária. Via de regra, haverá resistência, sendo acionados os sistemas de defesa, como a negação e a racionalização.
Outrossim, como o devido cuidado e tato, sem nenhuma forma de julgamento, certamente que devemos trazer à pauta, proporcionando ambiente para que o Cliente aceite o conteúdo reprimido, pois, se este manifestou-se espontaneamente mediante “lapsos freudianos”, é como que um alerta para si mesmo que é chegado o momento de trazer à luz, à consciência, aceitando e compreendendo.
Afinal, é melhor fazer isso no ambiente “seguro” do consultório, antes que o dia-a-dia seja invadido por continuados atos falhos, pois, ainda que constrangedores para o Ego e Superego, certamente que são compensadores para o Id…