Neste artigo para o Jornal O SERRANO, Henrique Vieira Filho nos fala sobre o Dia Do Folclore, abordando a origem miscigenada das lendas do Saci e da Iara, que inspiraram algumas de suas pinturas mais apreciadas pelo público brasileiro.
Publicado resumido no Jornal O Serrano, Nº 6319, de 26/08/2022
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.8265975
Escrevi este artigo no dia 22/08, mesma data em que o escritor britânico, William J. Thoms, criou o neologismo “folk+lore”: “sabedoria popular”, sendo este o Dia Do Folclore, no Brasil.
Danças, festas, comidas típicas e costumes transmitidos por gerações compõem um conjunto de expressões culturais de nossa identidade nacional, juntamente com um tópico que adoro: as lendas!
Em tupi-guarani, “perereca” é tudo que se locomove aos saltos. Já o termo “saci” é uma onomatopéia, ou seja, uma palavra idêntica ao som a se descrever, no caso, o canto de um certo pássaro muito arisco, difícil de ser visto, fácil de ser ouvido, enquanto exclama, continuadamente: _ “Sa.. ci… sa…ci… sa…ci…”
Em sua origem o Saci, não possui forma, daí sua associação com a força do vento (redemoinho…).
Da cultura africana, adquiriu corpo humano e, por sua tendência a “travessuras”, associou-se à imagem de uma criança, que teria até perdido uma perna na capoeira. Devido ao seu comportamento, os portugueses o identificaram como um tipo de duende, o Trasgo, do qual herdou o gorro vermelho.
Obra: O Nascimento do Saci – Artista: Henrique Vieira Filho
A cultura européia também antropomorfiza como “sereia” a nossa Iara (do tupi “y-îara”: “senhora das águas”). Nativamente, era um espírito-mãe (incorpóreo) protetor de sua cria (os rios).
Artwork: “Yara – Mãe Das Águas” – Artist: Henrique Vieira Filho
O romantismo lhe atribuiu uma história empoderada, como uma guerreira vitimada pelo pai e irmãos por pura inveja. Os peixes se apiedaram e rezaram para a lua, que a fez renascer como mãe-d’água.
Sua versão masculina, o Ipupiara, é sempre descrito como grotesco, enquanto a Iara ganhou as graças dos poetas.
Olavo Bilac morreu de amores por sua “cabeleira de ouro, verdes olhos úmidos e seio alvo e macio”, entrando na fila de outros ilustres apaixonados: José de Alencar, Gonçalves Dias, Juvenal Galeno, Melo Morais Filho, Machado de Assis…
Eles se declararam escrevendo com tinta nanquim, enquanto eu flerto a mitologia com pinceladas a óleo e acrílica: diferentes artes para um mesmo amor pelo folclore!
Artwork: “Yara – Mãe Das Águas” – Artist: Henrique Vieira Filho (Iara Mermaid – Yara, Uiara (do tupi y-îara, “senhora das águas”) – Mitologia Brasileira
Sessão fotográfica – Processo criativo para a pintura “O Nascimento do Saci”, de Henrique Vieira Filho
Cite as
Henrique Vieira Filho. (2023). Saci Perereca é o feminino?. O serrano, CXIV(6319). https://doi.org/10.5281/zenodo.8272654
Henrique Vieira Filho é artista plástico, agente cultural (SNIIC: AG-207516), produtor cultural no Ponto de Cultura “Sociedade Das Artes” (SNIIC: SP-21915), diretor de arte, produtor audiovisual (ANCINE: 49361), escritor, jornalista (MTB 080467/SP), educador físico (CREF 040237-P/SP), terapeuta holístico (CRT 21001), professor de artes visuais e sociologia, pós-graduado em psicanálise e em perícia técnica sobre artes.