Neste artigo para o Jornal O SERRANO, Henrique Vieira Filho nos fala sobre a origem milenar dos rituais de aniversários, pontuando ainda que nem todos se sentem bem nestas datas e as razões para tal.
Publicado resumido no Jornal O Serrano, Nº 6371, de 08/09/2023
Comemorar aniversários (do latim “annus”/ano e “vertere”/voltar) era um privilégio para divindades e realezas.
Todo ano, a deusa Artemis ganhava um arredondado pão adocicado com mel e uma vela acesa em cima, simbolizando a lua cheia e seu brilho.
Em algumas culturas, aniversariar era um perigo, pois era data preferencial para ser levado pela morte ou demônios. Para evitar, parentes e amigos presenteavam com amuletos, além de encherem de ar as tripas de animais, estourando as bexigas para afugentar os maus espíritos.
De tão associado ao paganismo, estas comemorações foram proibidas pela igreja católica, que só mudou de ideia a partir do século V, quando passou a celebrar o nascimento de Cristo.
Os marketeiros papais mudaram a data mais de dez vezes, até fixarem no solstício de inverno, aproveitando que o deus Mitra não tinha registrado exclusividade no setor de marcas e patentes.
Já nos meus tempos de “aborrescente”, o festejar era mais para “bem feito” do que caso de “parabéns”: ovos e farinha nem chegavam a virar bolo, pois eram os presentes que os aniversariantes ganhavam em seus cabelos.
Nos dias de hoje, festejar continua sendo jogado sobre as cabeças de todos: virou uma obrigação, muitas vezes contrariando os desejos do homenageado, em prol de uma imposição coletiva que rende poses para redes sociais.
Tanto por experiência própria, quanto por anos atendendo clientes com psicoterapia, sei bem que, enquanto a maioria sente alegria, outros tantos passam as datas comemorativas angustiados com autocobranças.
Para muitos, este dia é um “ADVERsário”, um lembrete de tudo o que ainda falta realizar e das perdas sofridas e nem são poucos os que consideram a ocasião como mais um “aniverSAURO” (gíria derivada de “dinosSAURO”), quanto aumenta o pesar dos anos.
Por mais bem intencionados que os à volta estejam, cobrar “felicidade” pode angustiar ainda mais estes aniversariantes.
Assim me senti por longos períodos da vida. De alguns anos para cá, o contrário: me sinto bem em comemorar, e, atualmente, posso dizer: bem feito! Fiquei um ano mais… SÁBIO!
Henrique Vieira Filho é artista plástico, agente cultural (SNIIC: AG-207516), produtor cultural no Ponto de Cultura “Sociedade Das Artes” (SNIIC: SP-21915), diretor de arte, produtor audiovisual (ANCINE: 49361), escritor, jornalista (MTB 080467/SP), educador físico (CREF 040237-P/SP), terapeuta holístico (CRT 21001), professor de artes visuais e sociologia, pós-graduado em psicanálise e em perícia técnica sobre artes.