Fim de ano é aquela época curiosa em que o mundo entra em modo “ano que vem a gente vê”. As pautas somem, os projetos hibernam e, como todo bom workaholic, fico exatamente ao contrário: com a mente fervendo e a ansiedade batendo ponto extra.
Tomava meu café da manhã — ainda com a xícara suspensa no ar — enquanto pensava na revitalização da Biblioteca da ReArte. Planejava datas, organizava mentalmente prateleiras, lembrava do “kit pronto” de livros oferecido pelo governo às bibliotecas reconhecidas… até cair na real: fim de ano! Tudo parado!
Meus olhos, então, pousam na televisão. Lá está Heraldo Pereira, âncora do telejornal. Pronto! A mente abandona o presente sem pedir licença. Lembro-me de quando ele me entrevistou para o Jornal Nacional. Ambos no começo da carreira televisiva. Uma lembrança puxa outra, entrevistas vêm e vão… e, de repente, percebo: sempre associo o Natal a Jô Soares!
E não, antes que pensem, não é pela semelhança física com o Papai Noel. Foi justamente por causa do bom velhinho — o Noel, não o Jô — que o Jô, não o Noel, me chamou para uma entrevista que iria ao ar na virada do dia 24 para o 25 de dezembro, no saudoso Programa Jô Soares 11 e Meia, que começava às 23h30 e era unanimidade nacional.
Teve de tudo que eu gosto: mitologia (a origem do Papai Noel), arte (presenteei uma caricatura dele como “Papai Jôel”) e literatura (deixei em mãos o manuscrito do meu próximo livro). Um Natal televisivo completo e que reprisou dois anos seguidos!
Daí a mente emenda: livros, biblioteca, Natal, neve, frio… e viajo até a Islândia. Terra de fogo, gelo e muita leitura. Lá, Papai Noel não reina sozinho: são treze figuras mitológicas travessas, filhos de ogros, que aparecem uma por dia deixando presentes nos sapatos das crianças comportadas.
Mas, o que realmente me encanta por lá é o “Jólabókaflóð”, que podemos traduzir como “A Inundação de Livros”. Em novembro, todos recebem um catálogo com os lançamentos do ano. Na noite de Natal, trocam livros e passam horas lendo, com chocolate quente na mão. O resultado? Cerca de 80% das vendas de livros do país acontecem nessa época. Um paraíso literário — ainda que gelado. Talvez ler seja mais atraente do que passear sob nevasca… opa, lá vai a mente de novo.
Começo a sonhar em importar a ideia para o Brasil, até lembrar da logística: aqui, o frete costuma ser mais caro que o livro. E o hábito de leitura, convenhamos, ainda patina.
Resta-me dar passos possíveis: ampliar nossa biblioteca, fortalecer clubes de leitura, promover bate-papos literários, trazer autores. Em 2026, com força total!
E sabem quanto tempo durou essa avalanche de pensamentos? Heraldo Pereira ainda falava na TV… Eu ainda segurava a xícara de café…
Bem-vindos às divagações da mente de um autista. E, claro: feliz Natal a todos!