Artigo publicado originalmente no Jornal O Serrano, em 08 de outubro de 2021.
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.5683194
“Quando a lenda é mais interessante que a realidade, imprima-se a lenda!”, já dizia o jornalista, no filme: “O Homem Que Matou O Facínora”, nos anos 60.
Aqui no Brasil, nos anos 40, tivemos “O importante não é o fato, mas a versão”, atribuído ao mineiro Benedito Valadares, que teria plagiado outro político, José Maria Alkmin.
Outrossim, o pioneiro no tema, parece ter sido o romancista francês Georges Duhamel, que escreveu, em 1918: “Como toda pessoa séria, não acredito na verdade histórica, mas na verdade da lenda”.
Minha sucinta pesquisa quanto a ser Serra Negra chamada de “hérã-n-yeré” (“algumas voltas”, pelo tanto que teriam que rodear as nossas montanhas…) por seus habitantes originais, os Kayapós, não encontrou respaldo, nem quanto à ocupação da tribo, nem quanto ao termo linguístico.
Em rápida conversa com Nestor Souza Leme, que sabe tudo sobre a cidade, me confirmou que não eram nativos da região, sendo esta história mais um “causo”, do que um fato.
Contudo, surrealista que sou, adoto e imprimo… a lenda!
Mais do que isso, eu amplio o “causo”: foi em Serra Negra/SP que os primeiros Mebêngokrês vieram dos céus e se estabeleceram na terra!
Chamados pelos demais indígenas de Kayapós (“caras de macaco”, devido a alguns de seus trajes ritualísticos… ou será que já era bullying?…), suas aldeias eram no céu, até que, ao perseguirem um tatu em sua toca, descobriram que havia um buraco para o nosso mundo.
Prepararam uma longa corda e por ela migraram, até que, discordando destes rumos, um dos seus a cortou, dividindo o povo entre céu e terra.
Por isso, chamam a si mesmos de Mebêngokrês (“os homens do buraco / lugar d’água”).
Mesmo depois da corda ter sido cortada, ainda teve ao menos uma migrante de grande destaque: a índia Nhokpôktí, que desceu junto com as chuvas (de quem era filha…) e, depois de um certo tempo, cansada de comer as mesmas coisas aqui na terra, fez com que seu marido a catapultasse de volta aos céus, de onde retornou com inúmeras frutas e legumes, ensinando a todas as índias a cultivar.
E tudo isso aconteceu bem aqui, em Serra Negra! E eu tenho a prova: esta fotografia que tirei, de Nhokpôktí, em uma de suas idas e vindas entre céu e terra, aqui com as montanhas serranas ao fundo!
Cite as
HENRIQUE VIEIRA FILHO. (2021). Serra Negra E A Cosmologia Kayapó. O serrano, CXIII(6275). https://doi.org/10.5281/zenodo.5683194
Henrique Vieira Filho é artista plástico, agente cultural (SNIIC: AG-207516), produtor cultural no Ponto de Cultura “Sociedade Das Artes” (SNIIC: SP-21915), diretor de arte, produtor audiovisual (ANCINE: 49361), escritor, jornalista (MTB 080467/SP), educador físico (CREF 040237-P/SP), terapeuta holístico (CRT 21001), professor de artes visuais e sociologia, pós-graduado em psicanálise e em perícia técnica sobre artes.