Neste artigo, o artista e psicoterapeuta Henrique Vieira Filho nos fala sobre as curiosas explicações das culturas milenares (inclusive, a tupi-guarani) sobre o fenômeno dos eclipses.
Publicado resumido no Jornal O Serrano, Nº 6305, de 20/05/2022
São Pedro (ou teria sido a deusa tupi Amanaci?) encobriu os céus com pesadas nuvens e não nos deixou assistir ao recente eclipse lunar.
Hoje em dia, este tipo de evento é bastante apreciado, porém, na antiguidade, era tido como mau agouro, pois ou o Sol, ou a Lua estariam sendo devorados por alguma criatura mística.
A reação mais comum era fazer o máximo de barulho possível, para que parassem logo!
Na Índia, era a cabeça imortal do demônio Rahu que os engole, mas, como não tem corpo, escapam por baixo; para os vikings, um par de lobos eram os esfomeados; no Vietnã, o devorador de astros era um sapo; na China, um dragão; na Coréia, eram cachorros brincando.
Contrariando a maioria, algumas culturas como a dos Navajos e de certas tribos do Taiti e da África interpretam os eclipses como estando os deuses solares e lunares brigando ou namorando entre si.
No Brasil, temos ambas as versões! Em uma delas, ora irmãos homens, ora casal, Sol e Lua estão lutando, devendo ser apartados com “panelaços”, tambores e flechadas.
Já outro mito tupi-guarani culpa a Juma, ops, a Xivi, uma onça celestial, que persegue e devora os astros irmãos.
Uma variante desta história conta que tudo começou com uma briga de pescaria entre o espírito Charia (que viria a ser o jaguar devorador celeste) e os irmãos Sol e Lua.
A cor avermelhada de certos fenômenos lunares é o sangue que transborda destas batalhas e de outras histórias.
Uma das “fofocas” do “Olimpo Tupiniquim” diz que o Lua (era masculino) sangrou das flechadas que levou enquanto fugia dos flagrantes de suas desventuras amorosas.
Os Paracanãs, da região entre Xingu e Tocantins, nos contam que, originalmente, eram os homens que menstruavam!
Isso mudou quando um herói mitológico fez uma ponte do chão até o céu, fixando-a com flechas na Lua, cujas gotas de sangue caíram sobre as mulheres da tribo, que tomaram para si a função.
Por essas e por outras é que, não só no Brasil, como em diversas culturas, sempre evitam a exposição à “lua de sangue”: vai que “destroca”!
Onça Celestial Devoradora De Astros” – Arte: Henrique Vieira Filho