Jornal O Serrano, Livro 101 Crônicas de Serra Negra

Tricocheteando

Neste artigo, o artista e psicoterapeuta Henrique Vieira Filho trata da origem milenar do tricô e crochê, sua importância através dos tempos, conquistando as passarelas de moda

Publicado resumido no Jornal O Serrano, Nº 6304, de 13/05/2022

Seja utilizando ganchos (“crochet”, em francês), ou varetas/agulhas (“tricot”, outra palavra francesa), entrelaçar fios acompanha a humanidade faz milênios e sua real origem é incerta.

Já foram encontradas, preservadas, obras sofisticadas, como bonecas chinesas e ornamentos tribais peruanos, em crochê, que datam mais de 2 mil anos, até par de meias egípcias tricotadas em algodão, do século 11.

Na Grécia antiga, o épico “Odisseia” nos apresenta a Penélope, que tricota de dia e desfaz à noite, adiando o prazo para casar, na esperança que Ulisses volte de Tróia.

Datando 1275, foram encontradas na Europa, capas de travesseiro, em tricô, no túmulo do príncipe Fernando de La Cerda.

Naquela época, eram técnicas restritas à igreja e à nobreza, só vindo a se popularizar 400 anos depois.

Durante as guerras mundiais, tricotar chegou a ser um ato patriótico com o objetivo de aquecer os soldados, passando a ser incentivado e ensinado nas escolas.

No século 20, graças a grandes estilistas como Schiaparelli, Rykiel e Chanel, ocorreu o “empoderamento fashion” do tricô, conquistando musas como Audrey Hepburn, Brigitte Bardot e Catherine Deneuve e as passarelas do mundo todo.

Nos anos 80 e 90, o “surto” de  tricô industrial, sem preocupação com “design”, o colocou na “lista negra” da moda, “status” revertido em nossos dias, com marcas de renome revalorizando versões luxuosas e artesanais.

A migração italiana trouxe esta Arte para nossas terras e, ainda que muito forte em Monte Sião, a prática conquistou toda a região.

Lembro de minha avó Emma, nascida em Amparo, que jamais desperdiçou nenhum tecido: roupas e meias rasgadas, panos esfarrapados, enfim, tudo era unido em grossos fios que, juntos a retalhos, milagrosamente, se transformavam em tapetes e colchas.

Recordo de minha tia Arthema e prima Vera, que nos bancos da praça de Serra Negra, com suas varinhas mágicas, criavam casacos e cachecóis, vendo a Banda Lira passar, cantando coisas de amor.

Por tudo isso, tenho que agradecer e parabenizar aos “Quadradinhos de Amor” pela nostálgica experiência de transitar por suas obras de arte e de caridade (irão para doação aos necessitados). 

Passear descalço, sobre tanto amor, não tem preço!

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Henrique Vieira Filho Administrator

Henrique Vieira Filho é artista plástico, agente cultural (SNIIC: AG-207516), produtor cultural no Ponto de Cultura “Sociedade Das Artes” (SNIIC: SP-21915), diretor de arte, produtor audiovisual (ANCINE: 49361), escritor, jornalista (MTB 080467/SP), educador físico (CREF 040237-P/SP), terapeuta holístico (CRT 21001), professor de artes visuais e sociologia, pós-graduado em psicanálise e em perícia técnica sobre artes.

http://lattes.cnpq.br/2146716426132854

https://orcid.org/0000-0002-6719-2559

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