Neste artigo, o artista e psicoterapeuta Henrique Vieira Filho homenageia as mães ao contar sobre as deusas maternais das mais variadas culturas e a curiosa história da pintura milagreira de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, atribuída a São Lucas, retratando Maria e bebê Jesus.
Publicado resumido no Jornal O Serrano, Nº 6303, de 06/05/2022
A data comemorativa é estratégia comercial, porém, o culto a uma figura feminina acolhedora, que nutre, ama, protege, perdoa e nos acode, este sim é universal.
Isis (Egito), Shakti (Índia), Deméter, Gaia, Héstia (Grécia), Nanã (Suméria), dentre incontáveis divindades, refletem a memória ancestral da humanidade, reprisando padrões universais (arquétipos) do culto à Grande Mãe.
Até mesmo as correntes religiosas monoteístas e patriarcais se viram obrigadas a incluir o feminino em suas tradições.
De Constantinopla, os Cruzados trouxeram inúmeras estátuas (origem das “aparecidas”) e pinturas de madonas divinas que se tornaram relíquias sagradas e pontos focais de orações.
Tradicional pose de Ísis amamentando Horus
Escultura egípcia do Período Ptolomaico (entre 712-323 aC)
Met Museum – N.Y.
O catolicismo se rendeu a Maria, a quem os devotos recorrem com pedidos que somente quem é MÃE poderia atender.
Eis a razão de ser de uma se suas variantes, a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (seu nome já diz tudo), a qual, assim como a Nossa Senhora do Monte Carlo (mãe da Polônia), ganharam o mundo nas pinturas de São Lucas (meu colega terapeuta e artista plástico).
Ilustração: Maria e Jesus posando para São Lucas, sendo retratados por Henrique Vieira Filho, tendo ao fundo a cidade de Socorro/SP – releitura surrealista da obra de Maerten Van Heemskerck
“Imagem de Nossa Senhora do Monte Carlo, mãe da Polônia, feita por São Lucas”
Sejam mesmo as originais “pintadas por Lucas nas madeiras da mesa da Santa Ceia”, sejam releituras de pintores anônimos, para estas telas foram erguidos santuários que recebiam romarias de “filhos” em busca de piedade materna e redenção.
Uma interessante história conta que, nos idos do Século XV, a pintura do Perpétuo Socorro foi roubada e, mesmo raptada, ela é quem salvou, milagrosamente, o navio que a levava, que estava naufragando.
O larápio se apegou à tela, tanto que somente no leito de morte, suplicou que ela fosse devolvida à igreja.
Esse desejo só foi cumprido muitas décadas depois, e, ainda assim, só porque a santa apareceu para uma menina, dizendo exatamente em qual igreja a pintura deveria ser entregue.
Lá permaneceu por 300 anos, voltando a desaparecer e reaparecer através dos tempos, até chegar em sua morada definitiva, a Igreja de Santo Afonso.
Como em coração de mãe sempre cabe mais um, a santa ainda arrumou tempo de adotar uma cidade, aqui mesmo, no nosso Circuito das Águas!
Henrique Vieira Filho é artista plástico, agente cultural (SNIIC: AG-207516), produtor cultural no Ponto de Cultura “Sociedade Das Artes” (SNIIC: SP-21915), diretor de arte, produtor audiovisual (ANCINE: 49361), escritor, jornalista (MTB 080467/SP), educador físico (CREF 040237-P/SP), terapeuta holístico (CRT 21001), professor de artes visuais e sociologia, pós-graduado em psicanálise e em perícia técnica sobre artes.