Bate Forte O Tambor

Taiko - Ilustração - Henrique Vieira Filho

Neste artigo para o Jornal O Serrano, Henrique Vieira Filho trata da importância milenar dos instrumentos de percussão,  sejam as de raízes européias, asiáticas, indígenas brasileiros e africanas, aplicadas na religiosidade, nas guerras e, atualmente, nas mais diversas manifestações culturais, como as do Festival Brasileiro de Taiko (“tambor”, em japonês), passando por nossas escolas de samba e até a capoeira.

Publicado resumido no Jornal O SERRANO, Nº 6415 de 02/08/2024

Ilustração: Henrique Vieira Filho

Esta semana tive o prazer de assistir ao Festival Brasileiro de Taiko (“tambor”, em japonês), aqui em Serra Negra.

Além do Japão, o Brasil é o único país a ter um evento sobre esta tradição cultural na qual o instrumento expressa sentimentos de alegria, ira, tristeza e prazer com base em quatro princípios: atitude, técnica, forma (“kata”) e energia (“ki”).

Sua origem não é exata; a semelhança do taiko com os tambores chineses e coreanos indicam a influência dos países vizinhos. 

Alguns registros históricos de 558 d.C. afirmam que os japoneses foram para a Coreia estudar o “kakko”, um tambor que se originou do sul da China, e que já existiam na Índia, por volta de 400 a 600 d.C.

Na verdade, todas as culturas milenares, por todo o mundo, têm longa relação com este instrumento. No contexto religioso, ora serve de “telégrafo” para falar com os deuses, ora é a própria voz divina, tal qual o trovão celeste que busca imitar.

Na guerra, era uma boa forma de comunicação à distância para orientar os exércitos, além de sonorizar a reprodução das batalhas nos eventos teatrais de contação das histórias vitoriosas para o povo, preparando seu espírito para as próximas convocações.

Nos idos de 1500, os portugueses, que já bem conheciam e utilizavam militarmente os tambores (herança da época da dominação árabe), ao adentrarem nos territórios brasileiros, já se depararam com tambores pré-Cabral.

O “Tratado Descritivo do Brasil”, de 1587, relata que os tupinambás cantavam e dançavam ao som de um tamboril, preparando-se para a guerra, da mesma forma que os amoipiras, que também utilizavam o som do tambor para marcar o compasso da marcha de encontro aos inimigos.

Mais para frente, nossa sonoridade foi enriquecida pela cultura africana, que trouxe consigo uma ampla variedade de instrumentos de percussão, em especial, sudaneses e bantos.

No Brasil de hoje, o som do tambor se volta às manifestações religiosas, como as do candomblé e umbanda e tradições culturais, onde o Taiko japonês aqui convive com as afrodescentes “Dança do Tambor” (Punga), escolas de samba e capoeira!

É preciso viver em épocas de paz para percebermos que todos os povos têm mais em comum do que imaginam! E viva a diversidade compartilhada!