Nós Tradamus, Vós Tradais

Bola de Cristal - Ilustração: Henrique Vieira Filho

Neste artigo para o Jornal O Serrano, Henrique Vieira Filho traz à pauta a curiosidade popular sobre previsões para o ano novo e relembra curiosos casos de adivinhações nos meios de comunicação e vida pessoal.
Publicado resumido no Jornal O SERRANO, Nº 6387, de 12/01/2024

Evidente que o vidente mais famoso de todos os tempos ainda não virou verbo, mas, quem sabe em um futuro distópico, passe a significar o exercício da “futurologia”.

A cada virada de ano, seja por mera curiosidade, até por espiritualidade, aumenta a procura e a oferta de diversas formas de previsões para os mais variados fins, como trabalho, romance e até finanças!

Meu pai, o serrano Henrique Vieira, sempre comprava o “Almanaque do Pensamento”, o guia astrológico que em 2024 atingiu a marca de 112 edições! Sendo ele muito “certinho”, tentava a sorte de adivinhar os números apenas da Loteria Federal, enquanto minha avó Luzia Corbo Fioritti era adepta do “jogo do bicho”.   

Quando criança, vivi uma fase “Nostradamus” bastante curiosa, que incluiu o seguinte sonho: estava na fila da padaria e notei a idosa à minha frente abismada com o elevado valor dito pelo balconista, até que eu lhe expliquei: “não é o que a senhora tem que pagar, na verdade, é o número que será sorteado na loteria de amanhã”.

Contrariando todas as probabilidades matemáticas, foi exatamente o que aconteceu! Não sei quanto meu pai ganhou, pois conseguiu um bilhete com a mesma milhar sonhada. Já “vó” Luzia nunca perdoou por não saber a tempo de fazer a sua “fezinha”!

E olha que nem precisei de bola de cristal, que é um instrumento de concentração descrito pela primeira vez pelo romano “Plínio, o Velho”,  que dedicou um capítulo inteiro aos druidas em seu livro “História Natural” (77 d.C.), obra considerada a enciclopédia mais antiga.

Apesar de Santo Agostinho associar a magia druídica aos demônios, em seu livro “A Cidade de Deus” (426 d.C), até mesmo a rainha britânica Elizabeth I considerava as previsões do conselheiro da corte, John Dee, que juntamente com seu colega Edward Kelly, eram adeptos das esferas cristalinas.

Modernamente, a ficção cinematográfica e televisiva consagrou a figura, (geralmente, caricata) de videntes trajando turbante, túnica e tendo à mão a mágica “bola de cristal”.

Uma das mais populares atrações do programa “Fantástico” (Rede Globo) eram as previsões de final de ano. Lembro especialmente da edição de 1977, na qual Chico Anísio, em sua crônica humorística semanal, pontuou que sempre algum vidente prevê que “vai morrer um artista”, razão pela qual, proferiu sua vingança: “ano que vem, quem vai falecer será um vidente!”. E eis que, em 1978, morreu Omar Cardoso, o mais famoso astrólogo brasileiro!