Jornal O Serrano, Livro 101 Crônicas de Serra Negra

Um Beijo Para O Gordo

Em colaboração para o Jornal O SERRANO, Henrique Vieira Filho aborda Jô Soares antes de seu consagrado talkshow, com seus mais de 200 personagens humorísticos e da comédia televisiva Família Trapo, cujo molde é repetido até nossos dias: “A Grande Família”, “Sai De Baixo”, “Toma Lá, Dá Cá”, “Vai Que Cola” são bons exemplos.

Publicado resumido no Jornal O Serrano, Nº 6317, de 12/08/2022

Muitos conhecem Jô Soares por seu pioneiro (no Brasil), muito imitado e jamais equiparado, programa de entrevistas.

Ser entrevistado por ele era uma honra e sou feliz por ter sido um dos que compartilharam o palco com ele.

O que os mais jovens perderam de conhecer foi outra de suas grandes habilidades, no tempo em que os humoristas eram atores, redatores e até cantores, estando em pé de igualdade com Chico Anysio no quesito de qualidade e quantidade.

Jô interpretou mais de 200 personagens e popularizou uma infinidade de bordões.  Se fosse listar todos, nem caberiam nesta edição! 

Por isso, vou focar no primeiro que conheci: o mordomo Gordon, do humorístico “Família Trapo”, do qual foi um dos criadores e roteiristas.

O palco de dois andares apresentava, com a presença de auditório, histórias em torno das trapalhadas e golpes de “Carlos Bronco Dinossauro”, o eterno “cunhado” interpretado por Ronald Golias, um malandro que vivia às custas do casal interpretado por Otello Zeloni e Renata Fronzi.

Apresentado ao vivo no Teatro Record, entre 1967 e 1971,  contava com a participação de convidados especiais e muita improvisação. Esta mesma fórmula continua válida até nossos dias: “A Grande Família”, “Sai De Baixo”, “Toma Lá, Dá Cá”, “Vai Que Cola” são bons exemplos.

Ainda que não intencionalmente, Jô Soares contribuiu para diminuir a gordofobia, transmitindo sempre uma imagem positiva de seu biotipo: “O humor foi a minha maneira de ser diferente em vez de ser diferente pelo fato de ser gordo”, disse ele em uma reportagem.

Desde a escolha de nomes de personagem (Gordon…), de seu programa mais popular (Viva O Gordo) e até o principal bordão de seu “talkshow” (Beijo do Gordo), estar acima do peso era só mais um recurso e nem foi impedimento a atuar com personagens que exigiam flexibilidade e resistência físicas.

Em suma, um grande (ops) ser humano, que precisou de um volumoso corpo para comportar a enormidade de sua erudição e humor.

Esteja onde estiver, receba, de todos nós, um beijo “pro” Gordo!

“Jô Soares, o mordomo Gordon e Ronald Golias, o impagável Carlos Bronco Dinossauro”
Arte: Henrique Vieira Filho

Cenas da entrevista de Henrique Vieira Filho para Jô Soares

Entrevista de Henrique Vieira Filho para Jô Soares

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Henrique Vieira Filho Administrator

Henrique Vieira Filho é artista plástico, agente cultural (SNIIC: AG-207516), produtor cultural no Ponto de Cultura “Sociedade Das Artes” (SNIIC: SP-21915), diretor de arte, produtor audiovisual (ANCINE: 49361), escritor, jornalista (MTB 080467/SP), educador físico (CREF 040237-P/SP), terapeuta holístico (CRT 21001), professor de artes visuais e sociologia, pós-graduado em psicanálise e em perícia técnica sobre artes.

http://lattes.cnpq.br/2146716426132854

https://orcid.org/0000-0002-6719-2559

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